Aos 44 anos, Michael Kimmel acredita nos talentos da formação da União de Leiria. O alemão, casado com uma filha de emigrantes, trocou o Homburg por Leiria há 18 anos e sente-se feliz em Portugal. Do seu país diz não ter saudades de nada. É o treinador da equipa de juniores de futebol da União de Leiria que está a fazer uma época de sonho. Em sete jogos, venceu cinco, empatou uma e perdeu apenas por
uma vez. É terceiro da zona Sul da 1ª Divisão, logo atrás de Sporting e Benfica.

Como é que um alemão, que jogava nos principais campeonatos do seu país, vem parar a
Portugal?
A minha namorada da altura, actual esposa, é filha de emigrantes portugueses. Já vivíamos juntos e surgiu um convite da União de Leiria. Chegámos a acordo e vim.

Como é que conheceu a sua esposa?
Era jogador do Fortuna de Dusseldorf e a minha prima tinha uma amiga, que agora é a minha esposa. Estava a jogar ténis com o meu io. A minha prima chegou e com ela vinha uma amiga. Conhecemo- -nos, depois convidei-a para um jantar. Achei piada à portuguesa. Também gostei muito da comida. A primeira vez que comi em casa dos meus sogros foi bacalhau...

Como é que a União de Leiria soube da sua existência?
Estava de férias em Portugal, porque no Inverno o campeonato na Alemanha pára. Fui ver um jogo
da União de Leiria e depois, para manter o ritmo, pedi para fazer uns treinos. Em Março, ligaram para os
meus sogros a pedir o contacto e daí surgiu o convite.

A realidade era completamente diferente da Alemanha?
Não. O futebol em Portugal tem menos disciplina, mas tem mais técnica. Se conseguirmos combinar as duas coisas numa equipa é possível fazer um bom trabalho.

E na sociedade?
Aí sim. Quando cheguei, em 1992, nem o Continente havia e na Alemanha havia hipermercados por todo o lado. Foi uma diferença enorme. A partir daí, Portugal começou a ficar mais desenvolvido. Resolvemos fazer a vida por cá, construímos uma casa e estamos muito bem.

Do que é que tens saudades da Alemanha?
De nada.

Depois de quatro épocas na União de Leiria, foi jogar nas divisões inferiores. Foi difícil?
Estive uma época no Vila Real, cinco no Beneditense, meia época no Bidoeirense e um ano no Alqueidão
da Serra. Em Vila Real foi difícil. Estava lá o Amândio Barreiras, que foi o meu primeiro treinador em Leiria, mas foi um sacrifício enorme, até porque a minha esposa ficou a viver em Leiria. Foi um ano muito desgastante.

Está na segunda época como treinador dos juniores da União de Leiria. A sua equipa é terceira
classificada da 1ª divisão de juniores, Zona Sul, só atrás de Benfica e Sporting...
Já o ano passado fizemos uma boa época e este ano estamos a continuar o trabalho com muitos jogadores
que já conhecia dos juvenis. Conseguimos manter a estrutura, com alguns reforços bons, sejam jogadores que vêm de uma divisão inferior, como o Mauro Eustáquio, que está a fazer um trabalho excepcional, sejam os que subiram de juvenis, que também estão a treinar muito bem.

Estes resultados estão a surpreendê- lo?
O campeonato é muito competitivo. Não estou surpreendido com o valor dos meus jogadores, mas esperava que algumas equipas, como o Nacional, fossem mais fortes. A competição é muito equilibrada e as equipas mais regulares vão ficar logo atrás dos dois grandes.

O apuramento para a fase final está reservado aos quatro primeiros classificados. Esse é um objectivo definido?
Até à 22ª jornada só há dois lugares que nos interessam: o terceiro e o quarto, até porque se não o conseguirmos teremos de lutar numa segunda fase pela manutenção. Mas há uma grande união entre todos
os jogadores, por isso acredito que vamos conseguir continuar a ter bons resultados.

Como vê as condições que a formação da União de Leiria oferece aos seus jogadores?
Estas condições, como o sintético, são importantes, mas falta claramente mais um campo para treinar.
É impossível uma equipa que está a disputar os nacionais treinar toda a semana em meio campo. É muito díficil treinar nesse espaço com 27 ou 28 jogadores. Com o campo inteiro o trabalho é completamente
diferente, podem ser feitas outras coisas.

Há jogadores nos juniores com qualidade para subir aos seniores?
Qualidade há, mas a formação não acaba aos 18 anos. Alguns treinadores, se tivessem mais coragem, já tinham apostado. Com a qualidade que alguns estrangeiros que jogam na Liga têm, não se perdia nada em apostar nos jovens vindos da formação. A aposta em Rúben Brígido, tal como no Mika, é exemplo
disso.



Foto: - Ricardo Graça 

Miguel Sampaio - Jornal de Leiria