Olegário Benquerença foi o primeiro árbitro português
a arbitrar três jogos num Campeonato do Mundo! Veja a entrevista que
deu após a sua vinda do Mundial da África do Sul 2010.
AF Leiria: Neste Mundial, como se
sentiu ao ser nomeado para arbitrar o terceiro jogo?
Olegário
Benquerença: Não é uma resposta fácil, uma vez que tenho que
dividi-la em três momentos. Antes da competição, considerava essa
hipótese como possível, mas, sobretudo, um sonho. Depois de termos feito
os dois jogos e atendendo ao desempenho que tivemos e feedback dos
responsáveis, o sonho tornou-se mais claro. Contudo, considerando os
critérios de nomeação, havia apenas 1 ou 2 jogos possíveis, existindo
também um lote de árbitros com iguais ou melhores possibilidades de
serem nomeados. Com a confirmação da nomeação, o sentimento que tivemos
foi de enorme alegria, orgulho e, porque não dizê-lo, de conquista.
Sermos a primeira equipa de arbitragem a dirigir 3 jogos numa fase final
de um Mundial é um feito que se perpetuará na nossa vida.
AF Leiria: Pode dizer-nos como
era o dia-a-dia de um árbitro durante o Mundial?
Olegário
Benquerença: O nosso dia-a-dia era mais ou menos constante, com
as manhãs reservadas ao preparo físico, ficando as tardes para
descanso, fisioterapia e/ou manutenção e reuniões de carácter tecnico. A
partir do início dos jogos, o grupo foi-se dividindo entre trabalho de
preparação para quem tinha jogo nos 3 dias seguintes, recuperação para
quem chegava dos jogos e manutenção para os restantes. As condições de
trabalho eram excelentes, com campos relvados, piscina, ginásio e outras
infraestruturas de apoio, tudo com os melhores meios para que a
preparação fosse cumprida. Devido a dimensão do país e distância entre
cidades, tivemos que utilizar o avião como meio de transporte, levando a
que o processo de preparação se assemelhasse a um jogo habitual nas
competições europeias. Entre colegas e técnicos o ambiente era
formidavel, o que se deveu, sobretudo, ao conhecimento mútuo e a 3 anos
de trabalho conjunto na preparação deste evento.
AFLeiria: Qual o balanço que faz
da sua experiência, como árbitro, no Mundial da África do Sul?
Olegário
Benquerença: O balanço foi muito positivo. Aliás, para
primeira experiência numa competição deste nível, não podemos deixar de
afirmar que excedemos as nossas expectativas iniciais e que se tornou um
acontecimento que marcará as nossas vidas, quer desportivamente, quer,
sobretudo, a nivel pessoal.
AFLeiria: Quais os aspectos
positivos e negativos que identificou naquele país?
Olegário
Benquerença: Como aspectos positivos, a enorme simpatia de um
povo, o constante apoio a todos os estrangeiros, mesmo após a eliminação
da sua selecção. A Africa do Sul é um país já com niveis de
desenvolvimento assinalaveis e que aproveitou muito bem este
acontecimento como motor para a criação de infraestruturas básicas para a
sua população. O ponto menos positivo, pese embora não o tenha sentido
muito próximo, continua a ser a insegurança, principalmente nos grandes
centros populacionais.
AFLeiria: Quais são as suas
perspectivas para o seu futuro na arbitragem?
Olegário
Benquerença: O meu futuro passará, como até aqui, por continuar
a atingir novos objectivos e contribuir para a melhoria da imagem da
arbitragem. Tenho ainda 5 anos de carreira e gostaria de continuar ao
mais alto nível durante esse período, não deixando de tentar a
oportunidade de participar no próximo Europeu, culminando a minha
carreira no Mundial de 2014. Tudo isto, sendo possível, obrigar-me-á a
trabalhar ainda mais do que até aqui, pois existem muitos árbitros de
grande valor que aspiram aos mesmos objectivos e que possuem valor para
os concretizar.
AFLeiria