Depois de uma década como jogador, Telmo Cruz assumiu, há cerca de um mês, o comando técnico do Pataiense, substituindo Tógui, do qual era adjunto. Passado o choque inicial, o jovem técnico em entrevista ao jornal Região de Cister acredita que ganhou o grupo e acredita que a equipa pode ir longe no campeonato.
REGIÃO DE CISTER (RC) > O que representa para si treinar o Pataiense?
TELMO CRUZ (TC) > Sinto um enorme orgulho por ter deixado de ser jogador no final de época passada e três meses depois do arranque da temporada ter a oportunidade de passar a liderar o grupo de trabalho em novas funções.
Foi tudo muito rápido. Era um sonho que tinha, até pelo meu passado enquanto atleta neste clube, mas não esperava que fosse tão cedo.
RC > Quando foi convidado, sentia-se preparado para as funções?
TC > Sentia-me com capacidade para liderar o grupo, mas só o fiz porque tenho plena confiança
no meu colega, o Dário Cabete, que é mais do que um adjunto. Dividimos as responsabilidades
e as tarefas em tudo. Só aceitámos o cargo, porque sentimos que tínhamos capacidade, mas também tenho a noção de que não estamos ainda preparados para o fazer na plenitude. O plantel tem a noção de que
sou um treinador jovem, que estou a começar, e eles têm sido espectaculares e ajudado no trabalho. Só assim, todos juntos, poderemos atingir o sucesso.
RC > Não obstante, começou a nova etapa com duas derrotas... Isso não fez abalar o grupo?
TC > Há derrotas e derrotas. Por estranho que possa parecer, perdemos o primeiro jogo com o Guiense (1-4), mas senti que o grupo estava comigo. Dias depois, o jogo da Supertaça distrital, com o Bombarralense (0-1), deu para ver que tinha condições e capacidade para gerir o grupo. Esse jogo foi o clique para eu sentir que tínhamos todas as condições para ficar com a equipa. O grupo mostou em campo que estava connosco.
RC > E, logo depois, chegaram as vitórias...
TC > Depois de uma derrota tão injusta na Supertaça, a mensagem que passei para os jogadores foi de que eles só tinham de acreditar neles próprios e demonstrar no jogo seguinte toda a sua capacidade. Conseguimos duas vitórias consecutivas e depois um empate, num jogo menos conseguido por excesso de confiança.
Tivemos um período de férias, vamos reiniciar o campeonato e sinto que a equipa está bem, moralizada e quer dar continuidade ao trabalho. Vamos pensar jogo a jogo, para tentar subir na tabela.
RC > E chegar aos primeiros lugares?
TC > O nosso objectivo é fazer o melhor possível e isso passa por andar nos primeiros lugares da Divisão de Honra distrital. Temos condições para lutar pelos primeiros lugares, porque o espírito de grupo é muito forte. Esse é o meu objectivo.
RC > A dispensa de alguns jogadores foi importante para conquistar o plantel?
TC > Quando o Tógui saiu, fomos convidados pela Direcção do Pataiense para assumir a equipa nos dois jogos seguintes e esse período de tempo deu para fazer a análise da equipa. Naqueles dois jogos poderíamos ver como evoluía a relação jogador-treinador e treinador-jogador, perceber se a mensagem passava e, nesse sentido, se tínhamos condições para ficar. Percebemos que sim, mas que era necessário fazer alguns reajustamentos, porque o grupo não estava saudável. Tivemos de mandar um jogador embora, outro abdicou
de jogar por questões pessoais e outro saiu porque entendeu que não se sentia confortável no grupo. Tudo o que fizemos foi para bem do grupo.
RC > Foi esse reajustamento que faltou fazer a Tógui para permanecer no clube, até porque os resultados desportivos eram normais até ao momento da dispensa?
TC > Enquanto adjunto do Tógui, alertei diversas vezes para essa necessidade. Esse problema foi um dos que ajudou à saída dele, mas provavelmente houve outras situações que contribuíram.
RC > É natural do Juncal, mas jogou uma década em Pataias. O Pataiense passou a ser o seu clube do coração?
TC > Aprendi a gostar do Pataiense, clube no qual me sinto respeitado pelas pessoas e se tornou no clube do meu coração. Fui um jogador normalíssimo, mas orgulho-me da minha carreira, que foi carreira com humildade e respeito pelas pessoas e um prazer enorme em jogar futebol. Foi assim no Juncalense e no
Nazarenos e também foi nos dez anos em que vesti a camisola do Pataiense.
RC > E acredita que também pode ficar tantos anos no clube como treinador?
TC > Tenho a perfeita consciência de que é mais difícil ficar tantos anos a treinar do que a jogar, porque as funções são completamente distintas. O meu sonho é ser o melhor possível como treinador e continuar a andar ligado ao futebol, perspectivando sempre atingir outros patamares competitivos.
Texto/Foto - Joaquim Paulo