Estava-se no ano de 1994, cidade de Corrientes, Argentina. A pacatez suave da urbe é agitada pela chegada de Diego Armando Maradona. Ninguém acredita: Maradona aceita o desafio de um poderoso industrial local e torna-se treinador do Deportivo Textil Mandiyu. Consigo leva o histórico guarda-redes Sergio Goycoechea.  É a primeira experiência do Pelusa no cargo. Poucos meses após o escândalo de doping no Mundial dos Estados Unidos. No balneário, entre muitos nomes eternizados no anonimato, encontra-se Cristian Delmoro.
Num misto de fascínio e amedrontamento, todos escutam as palavras melífluas de El Pibe. A realidade vira fantasia e durante três meses a cidade de Corrientes vive e respira Diego Armando Maradona.

«Foi incrível. O clube era pequeno e ninguém nos ligava. De repente, havia milhares de pessoas e centenas de jornalistas a seguir o Deportivo. A direcção até vendia bilhetes para os treinos», recorda Cristian Delmoro ao Maisfutebol.

16 anos depois, este médio-defensivo acaba a carreira em Portugal, ao serviço do GD Alvaiázere, uma equipa do Distrital de Leiria. 16 anos entre o céu e o adeus.

«Ser treinado pelo Maradona é como ver Deus em pessoa ao nosso lado.»  Delmoro lamenta ter aproveitado tão pouco. Duas semanas depois, surge um convite do Equador e a verdura inconsciente dos 19 anos atira-o para longe da órbita de Maradona. Sobram as memórias e a saudade.

«Ele não é nada do que dizem. Nunca vi um treinador a dar tanto ao grupo de trabalho. É uma pessoa excepcional, especial, com um coração gigantesco. Tinha muitos problemas na altura, mas no trabalho diário ninguém notava nada», explica o argentino.

«Conhecemos pessoas que faziam 500 kms só para o ver treinar. O melhor do mundo, de todos os tempos, estava ali naquela cidadezinha quase no Paraguai. Tenho realmente pena de não ter ficado mais tempo e de ter privado mais com o grande Maradona.»

«A vida dá muitas voltas» e dois anos depois Cristian Delmoro chega a Portugal para jogar no Bragança. O primeiro de 12 clubes. «Depois fui para o Sourense e ainda estive no Câmara de Lobos, Estoril-Praia, Imortal, Fátima, Pontassolense, Abrantes, Sp. Pombal, Elvas, Madalena e Alvaiázere

Aos 38 anos o corpo impõe a paragem. «Não dá mais. Estou a trabalhar na área comercial de uma empresa em Leiria e já não consigo conciliar isso com os treinos diários.» 50 anos de Maradona: «Isso é que vai ser uma festa»

Diego Maradona completa meio século de vida no dia 30 de Outubro. A celebração vai encher Nápoles de pompa, circunstância e loucura. «Isso é que vai ser uma festa. Pode ser que ele me convide», diz Delmoro, numa sonora gargalhada.

«Na Argentina ninguém o esquece. É impossível. É o meu ídolo e torci muito por ele no Mundial da África do Sul. Olhava para o banco e lembrava-me dos tempos do Deportivo Mandiyu. Cada um de nós seguiu o seu caminho. Eu acabei aqui em Portugal, ele faz parte de todo o mundo.»

Cristian Delmoro formou-se no Quilmes, o mais antigo emblema da Argentina. As promessas exortadas pelos primeiros anos de futebolista esfumaram-se com o tempo. O destino foi-lhe farisaico, embora não haja queixas na mensagem de despedida.

«Diverti-me muito, aproveitei bem, cruzei-me com o Maradona e passei épocas excelentes em Portugal. Joguei com o Paulo Sérgio, treinador do Sporting, no Estoril-Praia. Estávamos na Liga de Honra. Na última temporada ainda marquei dois golos.»

E agora? «Agora estou a tirar o curso de treinador de II nível. Ah, e vou para o ginásio. Não quero engordar mais.»

Pedro Jorge Cunha - MaisFutebol